Entrevista com Vera Lúcia
Nickolas Silva Moraes - 3•A
Vera Lúcia de Oliveira Santos da Silva é Bacharel em Desenho Industrial, Licenciatura em Artes Visuais e Pós-graduada em Educação Ambiental.
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Jornal PF
Quem é Vera Lúcia de Oliveira Santos da Silva para você?
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Vera Lúcia
Sou persistente, não desisto diante das dificuldades, amante da verdade, da sinceridade e do respeito (acredito que para ser respeitado é necessário respeitar).
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Jornal PF
Quem foi Vera Lúcia quando criança?
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Vera Lúcia
Fui uma criança feliz e amada, morava em uma casa em uma rua particular, onde todos me conheciam. Brincava com meus amigos, em frente à minha casa, onde era o ponto de encontro para amigos, vizinhos, familiares, festas, aniversários, casamentos ou apenas assistirem televisão, pois naquela época poucos possuíam TV. Quando chovia, gostava de desenhar bonecas e suas vestimentas, para depois recortar.
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Jornal PF
Quais as dificuldades e quais as alegrias que a senhora já viveu?
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Vera Lúcia
Meus pais nos davam tudo, na medida das suas possibilidades. Morávamos em um bairro de classe média, estudei as primeiras séries em escolas particulares, só fui estudar na rede estadual por opção, não quis estudar em uma escola de freiras, em que minha irmã já estudava, preferi vir para o Primo Ferreira. Meus pais sempre me instruíram a respeito da vida e de suas dificuldades, o que me auxiliou muito, pois em muitas escolas, que estudei, fui a única negra na sala de aula.
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Jornal PF
Qual foi o momento em que a senhora pensou em ser professora, e por que de Arte?
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Vera Lúcia
Quando cheguei no Primo Ferreira já gostava de desenhar, precisei escolher entre Humanas e Exatas, o que para mim foi óbvio, pois as disciplinas de exatas continham desenho técnico. Aqui tínhamos uma sala especial, com pranchetas, banquetas e réguas especiais. Este contato foi muito importante para a minha escolha da faculdade, enquanto ainda cursava o último ano fui convidada a dar aula de desenho, em uma escola técnica, onde fiquei por 17 anos.
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Jornal PF
Qual o sentimento da senhora em relação a sua profissão?
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Vera Lúcia
Estou me aproximando dos 40 anos de profissão, passei por várias escolas estaduais, particulares, da prefeitura de Santos e do Guarujá. A profissão de professor vem sofrendo muitas mudanças e várias delas impostas pelos governantes, dirigentes e sociedade. Hoje, interesses políticos, prevalecem às necessidades da educação.
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Jornal PF
A senhora considera a arte um modo de se combater o racismo?
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Vera Lúcia
Sim, ela é um instrumento poderoso, porém não deveria ser só na disciplina de arte, este instrumento deveria ser utilizado por todas as disciplinas, elas deveriam trabalhar este temas sem restrições, mas não é o que vemos na maioria das escolas.
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Jornal PF
A senhora já passou por uma situação de racismo? Como se sentiu?
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Vera Lúcia
Por incrível que pareça, em todos estes anos, foi a primeira vez que passei por esta situação. No início da minha carreira trabalhei em Vicente de Carvalho, ao mesmo tempo que lecionava na escola de elite, não vou dizer não existia o preconceito, claro que ele estava presente, mas era velado, disfarçado, oculto.
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Jornal PF
O que a senhora sentiu pela pessoa que a ofendeu de modo racista?
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Vera Lúcia
Hoje estamos passando por um momento de transição, espero que consigamos transcorrer este período com grandes conquistas. No Brasil existe a mentalidade de branqueamento de raça. Há séculos, foi incentivada a ideia de que uma pessoa que traz no seu sangue descendência negra é um fator negativo, ao invés de ser passado para esta pessoa o orgulho e a valorização na aceitação.
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Jornal PF
Uma pessoa que comete este tipo de erro (que é um crime) merece algum tipo de perdão?
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Vera Lúcia
É passado de várias formas, o distanciamento como autoproteção, não estar ligado a um povo tão inferiorizado pelos poderes, pelas estruturas sociais. Há séculos e séculos este povo vem dando a outra face, desta forma não chegaremos a lugar nenhum como os que mantêm o poder assim desejam.
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Jornal PF
Em sua opinião a violência combate o racismo?
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Vera Lúcia
A violência não combate nada, muito menos o racismo, há necessidade de um trabalho de esclarecimento e debates sobre o racismo. Muitos, até mesmo professores, acham que o Brasil deveria continuar com a falsa ideia de que este é um país da igualdade e da aceitação racial, não aceitam o diálogo e sentem receio de trabalhar o tema.
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Jornal PF
Como a senhora vê uma pessoa racista?
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Vera Lúcia
Acho que cada um tem o direito de ser o que quiser, desde que também seja dado este mesmo direito ao outro. Uma pessoa que vive em sociedade não pode desejar ser considerada a mais especial das criaturas vivas, esta pessoa não tem o direito de discriminar, ofender, nem disseminar o ódio.
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Jornal PF
Se a senhora revivesse a mesma situação em que sofreu racismo agiria, hoje, de modo diferente?
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Vera Lúcia
Não, eu agiria da mesma forma, o preconceito tem que ser combatido, não só pelos negros, mas também por brancos, indígenas e grupos de homossexuais. Chega de achar que é apenas uma brincadeira de mal gosto, TEMOS QUE EXIGIR RESPEITO!